Mensagem do Graal: Luz da Verdade?

maio 28, 2009

A fugaz e insustentável “razão” da Criação, segundo a Mensagem do Graal

(Expondo a perigosa fraude messiânica de “Abdruschin”)

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Seccionando artificialmente  um “momento” no continuum inseparável da eternidade, através do mítico “Faça-se a Luz” bíblico, acreditou-se o autor de posse de um “ponto inicial”; de um “começo” a partir do qual pudesse dar início a seus “desvendamentos”. Ascendeu para tanto em direção ao reino do supostamente insondável (ao “reino divino”), pois assim se imaginava impune e livre para dar curso às suas imaginações irresponsáveis e pretensões de grandeza,  crendo mesmo que ninguém o seguiria até lá para denunciá-lo em suas flagrantes inconsistências.

Mas exatamente quando, como e porque, em um singular e específico momento, “surgiram” os próprios seres divinos, cujo formar causou a derradeira sedimentação dos “seres residuais” destes (as ditas “nuvenzinhas”) na esfera divina, cuja súplica por uma existência consciente foi apresentada como motivo para o surgimento da Criação? Nisso o autor, deliberada e convenientemente, se omite, apresentado a seus leitores, em verdade, razões totalmente secundárias  para o existir!

Ofereceu ele desta forma a seu leitores, portanto, uma resposta incompleta e parcial . E uma resposta de tal tipo sobre a mais fundamental das perguntas, não é, na verdade, resposta alguma.

Tais contradições e paradoxos implícitos foram resolvidos pelo autor através de decreto divino (um dogma): Sobre o que acontece dentro da esfera divina, o ser humano não pode refletir e ponderar, pois a origem do ser humano não o permite. Qualquer tentativa, aí, exporia, segundo o autor, a presunção e a arrogância humana, típica de um condenado, destinado a desaparecer no Juízo final “vindouro”… Uma evidente loucura, mantida intocada pela preguiça de refletir, pelo medo e pelo fanatismo religioso…

Sabendo ele que seus “desvendamentos” se dirigiam na verdade unicamente ao inquieto e sedento intelecto humano, queria ele (com o dogma da impossibilidade de o ser humano conceber o “reino divino”), conscientemente, colocar (artificialmente) um fim às perguntas, ciente de que cada resposta é um fruto que contém em si a sementeira de inúmeros outros questionamentos, não chegando isso jamais  a um fim, havendo sempre espaço para novos recuos, nunca cessando as interrogações, até que estas atinjam um crítico e desastroso ponto, onde toda a pretensão de conhecimento espiritual humano colapsa retumbantemente, ficando evidente que o tesouro que o ser humano imaginava ter em mãos jamais realmente existira.

Determinou o próprio autor, arbitrária e dogmaticamente (sim, pois acreditar desta forma é se sujeitar a um dogma), o ponto final de recuo de questionamentos a ele oportuno, protegido apenas por uma frágil auto-declarada condição messiânica.

Onde o estímulo da crença cega lhe era conveniente, ele a utilizou, apesar de se vender a seus leitores como um libertador!

Por isso os mitos envolvendo questões secundárias abundam entre os seres humanos. Quem faz uso deles apenas alimenta a presunção e a pretensão de “saber” diante de si e, é claro, inevitavelmente diante dos demais, pois o culto ao Ego não pode ser praticado sozinho, necessitando sempre de relações interpessoais de prestigio e sujeição, coisas quase inevitáveis nos sistemas de crença religiosa de nosso mundo. Com tais mitos, visa-se glorificar não a Deus, mas o ser humano, o qual anseia desesperadamente por um “papel” dentro do qual possa justificar a importância que dá a si mesmo.

As desculpas relacionadas à “baixa presunção humana” na tentativa  de sondar as “elevadas e inacessíveis altitudes divinas” servem apenas para isso: para valorizar artificialmente os absolutamente irrelevantes esclarecimentos secundários, com os quais os adeptos se refestelam e se vangloriam. Trata-se de uma desconcertante ode à hipocrisia humana, travestida, justamente, em uma pretensa humildade, elaborada sob medida para ser sorvida e apreciada com especial avidez pela vaidade humana!

Não são apenas as crenças combatidas por oskar Bernhardt que “batem palha vazia”. Este mesmo, descaradamente, também o faz.

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  • Oskar Ernst Bernhardt (autor do livro “Mensagem do Graal”) desenvolve, em sua  “cosmologia”, o conceito de uma deidade nos moldes “gnóstico/mesoplatônicos”, concepção esta cujos rastros remontam, pelo menos, aos séculos I e II da era cristã. Vale aqui reproduzir estas concepções anciãs:
  • “Como os gnósticos, os mesoplatônicos pensavam que havia uma deidade suprema longe de qualquer coisa que possamos pensar ou imaginar, completamente inefável (isto é, não se pode descrever esse Deus com palavras – nem mesmo as palavras mais grandiosas que possamos reunir). absolutamente perfeita, totalmente separada deste mundo e suas categorias. Ele é completo e eterno em si mesmo, sem relação com nenhuma outra coisa, não limitado pelo tempo ou pelo espaço, e sem ligação intrínseca com coisa alguma no tempo e no espaço. Não se pode dizer que ele é “grande”, porque isso significaria que ele participa de alguma coisa além de si mesmo, chamada “grandeza”. Não se pode realmente dizer que ele é “bom”, pela mesma razão. Ele não é grande, já que isso implicaria ter tamanho.
  • Como os gnósticos, os mesoplatônicos eram obcecados com o entendimento de como este mundo material veio a existir, se no início a única coisa que existia era esse ser único, perfeito e auto-existente. Então, eles desenvolveram sistemas mitológicos para explicar como aconteceu. Esses mitos não sugerem que o Deus único decidiu criar o mundo. Em vez disso, sustentavam que desse ser único emanou uma série desnorteante de outros seres divinos, transbordando para fora de si como água a partir de uma fonte, de modo que, entre o Verdadeiro Espírito Único e este mundo material, havia numerosos e variados tipos de intermediários divinos, separando-nos desse Único por um abismo intransponível.(capítulo seis do livro “Evangelhos Perdidos” de Bart D. Ehrman).”
  • Oskar Ernst Bernhardt, à luz de tais concepções, introduz então a noção similar de uma “esfera” de “irradiações divinas”; algo, à semelhança das idéias gnósticas, completamente separado do “mundo”; da Criação.
  • Deus, isto é, a Vida, apenas poderia ser algo absolutamente independente de tudo o mais. Pois algo que dependesse de outra coisa, naturalmente, não poderia conter, em si mesmo, a Vida. E um tal Ser, por conta de sua inconcebível magnificência e poder, não conseguiria evitar irradiações. E elas aconteceriam, se espraiando a distancias “lendárias”, até o ponto em que estas mesmas irradiações não mais conseguiriam seguir adiante, uma vez que elas, a tais distâncias, agora eram atraídas em sentido contrário (!), por conta da irresistível “gravidade” do centro de onde antes elas teriam sido impelidas adiante. Desta forma justifica o autor sua visão de um Deus “limitado”. Algo à semelhança de um “sol vivo”, cujo núcleo irradiante seria a própria Vida – Deus. Tão poderosas seriam as próprias irradiações emanadas, que elas mesmas tendiam a se tornar autoconscientes. Assim teriam “surgido” os “seres divinos”, dentro desta esfera divina eterna. Tal esfera pairaria no vazio sem fim existente à volta dela.
  • Por conta de tais concepções, “justifica” o autor o nascimento da Criação, em um suposto “pedido” daqueles que, após o surgimento de todas as formas e seres nesta “eterna esfera divina”, restaram como “refugo” na parte mais externa e distante deste Círculo Eterno, permanecendo na forma de pequenas nuvenzinhas indistintas na extremidade da mesma, segundo a descrição mística deste autor.
  • Tais energias, por não suportarem a extrema energia (pressão) desta esfera, mesmo a tais longínquas distâncias da Fonte primária, não podiam se tornar, seguindo um impulso íntimo e inevitável, conscientes e plenamente desenvolvidos. Apenas seguindo para um ponto ainda mais distante e, portanto, fora desta eterna esfera existencial de máxima luminosidade e pressão, tais seres poderiam então “desabrochar”.
  • Para satisfazer o constante rogar de tais energias residuais, Deus então teria permitido surgir a Criação, apresentando Oskar Ernst Bernhardt sua mitologia subseqüente, centrada toda ela ao redor da figura mítica e salvadora do próprio autor, o qual se declarou a encarnação terrena do “Filho do Homem”. Seria o Filho do Homem, dentro do quadro teológico acima delineado, uma “centelha” do próprio núcleo da esfera divina – Deus – enviada por Ele para além desta esfera eterna para assim iluminar o que até então era apenas espaço vazio, e desta maneira permitir o “formar”, criando um local propício para a existência dos seres espirituais, onde o resfriamento e a pressão diminuída consentiriam o desenvolvimento a tais criaturas, incapazes de “existir” no reino divino “acima” deles…
  • Porém, os resíduos desta nova Criação, por sua vez, também desencadearam um efeito em cascata, pois agora novos e “menores” seres espirituais, emanados daqueles primordialmente criados, também clamavam por uma existência consciente, ocorrendo assim o surgimento de uma hierarquia de castas espirituais, até chegar ao limite residual espiritual mais extremo e insignificante: nós. Tão insignificantes éramos em tal contexto, que tivemos que esperar que os resíduos finais deste processo cósmico – as diversas matérias (as visíveis e as invisíveis) – fossem trabalhadas por forças elementares conscientes (os Deuses da antiguidade), para que então pudéssemos ter um campo de desenvolvimento condizente com nossas possibilidades internas inferiores. Fizéssemos o “dever de casa” nas encarnações necessárias para tanto, então poderíamos nos desligar das matérias e retornar às extremidades inferiores do último e mais distante círculo espiritual, local de onde saímos como semente, ao mergulharmos de forma inconsciente nas materialidades localizadas ainda mais abaixo…
  • Agora, desenvolvidos, poderíamos suportar a pressão existente neste extremo limite dos mundos espirituais.
  • Caso contrário, seguiríamos junto com dissolução transitória das matérias, quando o fim para este planeta chegar (uma vez que nesta visão, não transitamos entre diversos planetas, estando “presos” por fios “cármicos” a este mundo). Então, caso falhemos, e sob “tormentos milenares”, nossas consciências espirituais  seriam reduzidas novamente à condição de semente inconsciente, com o que deixaríamos nós (a consciência que se formou ao redor da semente espiritual impessoal) de existir. Para sempre. (Não foi deixado claro exatamente como a dissolução das matérias seria capaz de afetar, ao mesmo tempo, o componente espiritual do ser humano, uma vez que se tratam de “substâncias” totalmente distintas e, assim, logicamente, reciprocamente ininfluenciáveis)
  • Um quadro belo, compreensível ao intelecto humano, e, é claro, ameaçador. Mas será que ele se sustenta diante de questionamentos não dogmáticos ?
  • A Perfeição de um suposto ser divino individualizado torna evidente e inevitável o subterfúgio de um anterior pedido para o surgimento da Criação, pois seria esta a única opção a desvincular o ato divino Criador de um mero capricho divino arbitrário! Desta forma, qualquer ser humano que queira pretender explicar o surgimento do universo não poderá dar início as suas imaginações senão através deste caminho.
  • Pois a perfeição; a plenitude, pressupõe a absoluta ausência de desejos. Pois um “desejo”, bem entendido, só pode surgir diante de uma incompletude; de uma insatisfação interior. Caso contrário, como pode um desejo se manifestar? E como pode justamente Deus estar interiormente insatisfeito? Tampouco por isso pode ser aventado o pressuposto mítico da solidão divina para justificar uma arbitrária criação de Deus, uma vez que isso o desfiguraria como tal.
  • Assim, como se poderia propor qualquer justificativa para Deus se decidir por criar algo? Por isso só restou o caminho do “pedido” externo, como justificativa para o surgimento da criação. As bases intelectivas para este desvendamento inevitavelmente conduziram o autor para este caminho.
  • Porém, a Criação espiritual justificada nos moldes apresentados pelo autor deixa evidente um grande e desastroso inconveniente: A “criação” (ou a permissão para um “desenvolvimento”) também ocorrendo dentro da esfera Divina! Tal hipótese expõe uma modificação fundamental ocorrendo no interior da esfera de Perfeição Divina! Mas uma modificação naquilo que é perfeito não exporia uma inconsistência destruidora? Pois o que é perfeito, segundo o próprio autor, não pode sofrer quaisquer modificações, pois a perfeição não pode ser melhorada, tampouco modificada, pois ela é una com a Eternidade!
  • O que é o Eterno senão aquilo que desde sempre existiu? Que, portanto, jamais teve tampouco um começo? Se tal esfera é de fato eterna, então tais seres divinos sempre lá estiveram, ao menos como possibilidade latente. E tal conclusão é corroborada pelo próprio autor, uma vez que ele atribui a tais seres a qualidade de “eternos”.

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Exatamente como e porque, em um singular e específico momento, surgiram os próprios seres divinos, cujo formar causou a derradeira sedimentação dos “seres residuais” destes (as ditas “nuvenzinhas”) na esfera divina? Nisso o autor, deliberada e convenientemente, se omite, apresentado a seus leitores, em verdade, razões totalmente secundárias para o existir!

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  • As parciais e incompletas “explicações” do autor para o surgimento do Universo deixam inevitavelmente evidente um “estado de incompletude” dentro da própria esfera de perfeição e plenitude divina, sem que no entanto ele ofereça a seus leitores qualquer  justificativa para elas.
  • Seguindo por este caminho, a outra conclusão não chegaríamos senão a de que tal Deus é um grande torturador, deixando Tomás de Torquemada em uma condição de santo piedoso… Pois se tal Deus não é um Deus arbitrário (dotado, portanto, de desejos e caprichos criadores), então isso significa que ele consentiu que por uma eternidade uma miríade de seres divinos permanecessem sequiosos por um desenvolvimento!
  • Se em um determinado momento Deus consentiu a tais entidades o formar na esfera divina, então isso quer dizer que como seres incompletos eles sempre lá estiveram. Em essência, o autor nos diz que os “eternos” seres divinos, habitantes da esfera de perfeição divina eram, em verdade, imperfeitos! Pois, segundo o próprio autor, não pode haver qualquer modificação em um estado Perfeito. Creio que esta conclusão lógica inevitável é suficientemente clara a qualquer um. Assim, se Deus teve que atender o constante rogar de tais entidades pela plenitude, isso significa então que em uma condição anterior a esta eles se encontravam insatisfeitos. Foram consumidos por anseios de totalidade, sem no entanto nunca terem sido atendidos dentro desta “longa” e inimaginável eternidade!
  • De uma forma ou de outra, seja através de um capricho criador divino, seja através de uma “permissão” para um desenvolvimento em face de um constante rogar de tais seres, acabamos sempre por nos deparar em tais explicações com um Deus arbitrário, uma vez que na hipótese de uma “permissão” para um ulterior e mais completo desenvolvimento, outra coisa tais entidades divinas não puderam fazer senão esperar que, em um momento ao longo da eternidade, Deus lhes autorizasse, quando ele bem entendesse , uma existência em sua completude. E aí não estamos falando do inferno, mas do Reino Divino!

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Seccionando artificialmente um “momento” no continuum inseparável da eternidade, através do mítico “Faça-se a Luz” bíblico, acreditou-se o autor de posse de um “ponto inicial”; de um “começo” a partir do qual pudesse dar início a seus “desvendamentos”. Ascendeu para tanto em direção ao reino do supostamente insondável, pois assim se imaginava impune e livre para dar curso às suas imaginações irresponsáveis e pretensões de grandeza, crendo mesmo que ninguém o seguiria até lá para denunciá-lo em suas flagrantes inconsistências.

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  • Por se arvorar a “explicar” o Universo através de um “ato criador” , tornou-se indispensável ao autor a utilização de um “momento” separador no curso da perene eternidade; de uma alteração. Pois está implícito em um “ato criador” a alteração de uma condição prévia, implicando ele, portanto, em uma descontinuidade. Por isso teve o autor que se expor a tais contradições.
  • Mas como justificar um “momento” para tal “ato criador” em meio a uma eternidade sem fim e tampouco sem começo? Neste específico ponto deve-se fazer uma profunda reflexão. Podemos mesmo falar em um momento criador qualquer (dentro ou fora da esfera divina) em uma eternidade que jamais teve sequer um início?
  • Assim, o autor nos apresenta um conceito temporal violador da eternidade atemporal; uma “antes” dentro da própria esfera de plenitude divina, a qual jamais teve um começo! É claro que ele jamais pretendeu se explicar, pois, como “Filho do Homem”, o autor não deve explicações a ninguém… Ele, no máximo, se dispunha a, magnânima e benevolamente, oferecê-las! E que se virem os insignificantes homúnculos em suas culpas e temores!
  • Por isso, os que se aproximaram de fato da verdade nos afirmam que Deus não é o “Criador”, mas a própria Criatividade… Bem entendida, a Criatividade é atemporal, pois prescinde de um momento; de um ato de vontade; de um motivo; ou até mesmo de uma justificativa, ao contrário de um “Criador”, cuja existência está vinculada a uma ação; a um “ato” e, assim, a um “momento” singular dentro da eternidade, dependendo tal distinta singularidade, por isso, de um “motivo” para sua ocorrência .
  • Pois um “momento”; um ato separador; uma descontinuidade na eternidade, não pode prescindir de um motivo! Mas uma descontinuidade é algo absolutamente impossível dentro do eterno agora, que desde sempre existiu.
  • Tais contradições e paradoxos implícitos foram resolvidos pelo autor através de decreto divino: Dentro da esfera divina, o ser humano não pode refletir e ponderar, pois a origem do ser humano não o permite. Qualquer tentativa, aí, exporia, segundo o autor, a presunção e a arrogância humana, típica de um condenado, destinado a desaparecer no Juízo final “vindouro”… Uma evidente loucura, mantida intocada pela preguiça de refletir, pelo medo e pelo fanatismo religioso…

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Ofereceu ele desta forma a seu leitores, portanto, uma resposta incompleta e parcial . E uma resposta de tal tipo sobre a mais fundamental das perguntas, não é, na verdade, resposta alguma.

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  • Não são apenas as crenças combatidas por oskar Bernhardt que “batem palha vazia”. Este mesmo, descaradamente, também o faz.
  • Sabendo ele que seus “desvendamentos” se dirigiam na verdade unicamente ao inquieto intelecto humano, queria ele (com o dogma da impossibilidade de o ser humano conceber o “reino divino”), conscientemente, colocar (artificialmente) um fim às perguntas, ciente de que cada resposta é um fruto que contém em si a sementeira de inúmeros outros questionamentos, não chegando isso jamais a um fim, havendo sempre espaço para novos recuos, nunca cessando as interrogações. Determinou ele, arbitrária e dogmaticamente (sim, pois acreditar desta forma é se sujeitar a um dogma), o ponto final de recuo a ele oportuno!

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Onde o estímulo da crença cega lhe era conveniente, ele a utilizou, apesar de se vender a seus leitores como um libertador!

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  • Uma atitude que não pode ser declarada senão como extremamente hipócrita. Mas ele simplesmente não tinha outra opção! Sabia que seu quadro não se sustentaria diante de questionamentos livres, honestos, lógicos e inevitáveis. Um recuo indeterminado acabaria por expor o paradoxo, a fragilidade e a inconsistência de seus “esclarecimentos”. Tornar-se-ia evidente que no cerne de seus esclarecimentos, por fim, não havia esclarecimento algum! Pois a Verdade não pode mesmo ser compartilhada através de palavras, ainda que se tente fazer uso de “imagens e descrições”, pois estas, inevitavelmente, terão de nos ser apresentadas através das primeiras, as quais nos brindarão, ao final, com um belo e inconsistente paradoxo, uma vez que tentemos através delas abordar a eternidade!
  • Por isso, ele também teve de se utilizar da falácia, fazendo uso de máximas universais, a fim de consolidar suas próprias inconsistências através da natural credibilidade inconteste daquelas. Afirmou, por isso, que a Verdade de fato não podia ser transmitida por palavras (coisa mesmo indiscutível), mas, ainda assim, se “dispôs” a oferecer um “quadro” (propositalmente dito “simbólico”) ao explicar o surgimento do Universo, pois precisava consolidar suas descrições com uma pretensa “chave de ouro” oferecida a seus seguidores.
  • Designou “simbólicas” tais imagens e esclarecimentos apenas para resguardar a si mesmo de quaisquer acusações legítimas que enfrentaria em face das inconsistências que apresentava. Apenas por isso tais descrições foram ditas “simbólicas”. Mas imagens simbólicas em nada se diferenciam de descrições mitológicas. E os mitos não têm compromisso algum com a Verdade.
  • Eles, os mitos, são forjados apenas para apaziguar e satisfazer as mentes humanas, inquietas e oprimidas diante daquilo que é inapreensível e incognoscível. Ao saciarem as mentes, agem eles como anestésicos; lenitivos que, como tais, estorvam o ser humano em seu caminho em direção à experiência pessoal da Verdade transcendente. Mitos (imagens simbólicas) são, por isso, nada mais que veneno ao espírito humano. Mercadores da verdade são inimigos do espírito. Oskar Ernst Bernhardt saciou cérebros humanos, uma vez que estes são naturalmente ávidos por respostas, e assim consolidou o caminho de sua influência, ao ir de encontro e satisfazer o desejo das mentes ocidentais hiperativas e naturalmente vaidosas, sempre sequiosas por um “profundo” e “elevado” sentido às suas, apesar de tudo, “humildes” existências.
  • A Verdade não pode mesmo ser transmitida ou “compreendida”, pois a mente precisa de limites para seu funcionamento, e o que é atemporal tampouco pode ter quaisquer fronteiras; não pode ser contido, abarcado ou apreendido, em nenhum nível do entendimento mental, pois o que é eterno (atemporal) não pode tampouco ser fracionado ou “adaptado” em direção a um grau de compreensão limitado ou menor. Por isso o  “Saber” jamais poderá ser utilizado como “instrumento” em direção à Verdade, como sugere este autor em seus “esclarecimentos”, pois tal “Saber”, inevitavelmente, terá de ser intermediado pelo cérebro; pela mente, jamais podendo, portanto, escapar das naturais limitações desta. Este é um caminho falso, que apenas conduz à presunção de saber, a qual não poderá jamais ser eficientemente dissociada da vaidade, por maior que seja o esforço que o adepto o faça para reconhecer-se “humilde”. Cérebros, atrofiados ou não (conforme a pseudociência apresentada pelo autor), jamais serão instrumentos para a iluminação. Pelo contrário.
  • O ser humano que se acredita possuidor das “chaves do Saber” na verdade se encontra constrangedoramente de mãos vazias. Este é o resultado quando fundamentamos a experiência espiritual em “respostas”, uma vez que quando formulamos perguntas, as fazemos através de nossas mentes, quer estejamos tratando de assuntos espirituais, quer não. Desta forma, por mais que queiramos acreditar de outra maneira, estaremos limitando a experiência espiritual ao domínio da mente e às inconsistências que a mesma apresenta ao tentar explicar aquilo que não pode ser por ela concebido.

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  • Recuássemos indefinidamente e sem quaisquer temores ou constrangimentos religiosos, então perceberíamos que uma “resposta” relacionada ao existir acabaria por retroceder a um momento, em verdade, inexistente.

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  • Pois se a causa primária – Deus – é a única determinante para tudo o mais, então quaisquer outros esclarecimentos relacionados a um “momento” posterior ao “surgimento” de Deus, diriam respeito a questões secundárias, e, assim, irrelevantes. Terminaríamos, caso continuássemos na seara das “respostas”, a perguntar: Eu existo porque Deus me criou desta ou daquela maneira… Mas, afinal,porque Deus existe? Pois esta é, na verdade, a única pergunta honesta e legítima a ser feita, cuja resposta seria verdadeiramente esclarecedora, uma vez que Deus é a única realidade do existir.

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  • Porém, se Deus é Eterno, então ele também desde sempre existiu, pois não pode haver um “começo” na eternidade. E não pode haver  um “motivo” para algo que desde sempre existiu.

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  • Simplesmente por isso, jamais poderá nos ser apresentada uma “explicação” verdadeira, isto é, real  e consistente, para as razões do existir. No domínio religioso habitam apenas tagarelas; falsos profetas sempre dispostos a justificar, de uma forma ou de outra, a”sinceridade humilde” de seus propósitos e de sua “gnose”.
  • Tal desencadeamento lógico, inevitável a um ser humano interiormente liberto, apenas demonstra que a experiência espiritual em nada se relaciona a perguntas e ao oferecimento “eficiente” de respostas. Pois, na verdade, terminaríamos sempre a recuar a uma única e determinante pergunta. E para ela não há nem nunca haverá resposta.
  • Poderíamos também, de outra forma, definir Deus como “aquele que sabe a resposta para a razão de Seu próprio existir”, isto é, aquele que sabe por que motivo sua existência prevalece sobre o Vazio Absoluto, sem recorrer a nada e a mais ninguém (a um Deus, por exemplo, como comumente o fazemos) para isso. Fica claro desta forma que o verdadeiro e único “Saber” pertence, portanto, apenas e exclusivamente a “Deus”.
  • O verdadeiro “Saber”, isto é, a “compreensão final”, jamais  poderá se constituir em uma “derivação”, devendo ele existir autonomamente, isto é, por si só e em si mesmo ! Só então poderíamos ter a certeza de estarmos diante da resposta fundamental acerca do existir. Uma derivação qualquer jamais será uma resposta verdadeira, mas apenas um “esclarecimento” secundário, não sendo por isso nada mais do que uma desculpa; um disfarce à própria condição ignorante, condição esta que aqueles que fazem uso de tais subterfúgios se recusam a aceitar. De nada adianta atribuirmos de forma simplória o motivo de nossa existencia a “Deus”, se nada sabemos sobre Deus (isto é, sobre o que quer que esteja contido nessa palavra),  sendo nossa ignorância sobre este conceito completa e absoluta.
  • Por isso somente nos podem ser oferecidas tais derivações (de idéias e conceitos), jamais respostas, uma vez que o verdadeiro Saber se encontra, por sua própria natureza, desatrelado de qualquer outra coisa.
  • Qualquer tentativa de explicar a existência (e Deus) através do idioma deve estar relacionado a um conceito temporal (começo – meio – fim) a fim de fazer algum sentido para a mente. A Eternidade – a verdadeira origem de todas as coisas – entretanto, não possui quaisquer fronteiras. O “Saber Primordial”, por emanar da eternidade atemporal e ilimitada, não pode ser ou estar atrelado a uma derivação de conceitos humanos temporais intrínsecos ao idioma, estando completamente fora do alcance da mente  e da dualidades das palavras, dualidade esta indispensável ao processo de intelecção desta mesma mente (Conceitos, que nada mais correspondem senão a base para o idioma e para as palavras, só podem existir coletivamente; isto é, conjuntamente, uma vez que uma palavra só faz sentido dentro do conjunto do idioma a que pertence.  Isolada, ela deixa de fazer sentido, e perde toda sua funcionalidade).
  • “Deus” não pode ser objeto de nosso “conhecimento”, uma vez que tal conceito está ligado a eternidade atemporal, estando por isso qualquer aspecto desta palavra vedado a nossa compreensão. Nenhuma lógica, idéia ou gnose pode se aproximar  disso. A eternidade atemporal; a “morada de Deus”, prescinde de sentido. Por isso não há comunicação possível entre o temporal e o atemporal.
  • Assim fica claro que o ser humano, ao recorrer a Deus para justificar sua existência, está apenas mascarando vergonhosamente a sua mais absoluta e incurável ignorância. Como então se pretender “Sábio” um ser humano, diante de uma exposição tão cruel de sua mais desconcertante estupidez em face da mais fundamental das respostas?
  • Todo o pomposo “saber” que até hoje nos foi oferecido acerca de Deus e do existir não passa por isso de lixo destinado a enaltecer indiretamente os próprios seres humanos que dele fazem uso.  A verdadeira humildade somente pode ser praticada ao nos reconhecermos sem quaisquer disfaces, em nossa total condição ignorante. Os que  se imaginam  “algo mais esclarecidos” acerca de Deus e do existir são apenas hipócritas, ou seres humanos que inadvertidamente (?)  se renderam à hipocrisia. Lamentavelmente, no entanto, parece que o destino do planeta está justamente nas mãos deste “Povo de Deus”, o qual espera, de uma forma ou de outra, pelo holocausto nuclear e por outras devastações, para assim “confirmar” a veracidade de suas “convicções”.
  • Outra coisa que deve ficar clara: As desculpas relacionadas à “baixa presunção humana” na tentativa  de sondar as “elevadas e inacessíveis altitudes divinas” servem apenas para isso: para valorizar artificialmente os absolutamente irrelevantes esclarecimentos secundários, com os quais os adeptos se refestelam e se vangloriam. Trata-se de uma desconcertante ode à hipocrisia humana, travestida, justamente, em uma pretensa humildade, elaborada sob medida para ser sorvida e apreciada com especial avidez pela vaidade humana!
  • Por isso os mitos envolvendo questões secundárias abundam entre os seres humanos. Quem faz uso deles apenas alimenta a presunção e a pretensão de “saber” diante de si e, é claro, inevitavelmente diante dos demais, pois o culto ao Ego não pode ser praticado sozinho, necessitando sempre de relações interpessoais de prestigio e sujeição, coisas quase inevitáveis nos sistemas de crença religiosa de nosso mundo. Com tais mitos, visa-se glorificar não a Deus, mas o ser humano, o qual anseia desesperadamente por um “papel” dentro do qual possa justificar a importância que dá a si mesmo.
  • Uma cosmologia envolvendo uma hierarquia de castas espirituais descendentes, por isso, sempre será apreciada e vista com bons olhos, uma vez que mesmo aquele que se encontra no degrau de percepção mais inferior ainda tem abaixo de si uma humanidade inteira de seres humanos “espiritualmente indolentes” diante da qual se refestelar de si mesmo. Numa rede de prestigio como essas, baseada em temerárias autoridades, dotadas de pretensos poderes e capacidades espirituais, é claro que as adulações e bajulações estarão sempre na ordem do dia, mesmo que tais fiéis jamais sejam capazes de ser tão cruéis consigos mesmos a ponto de admitirem tais fatos.
  • (Nota: Tornou-se comum no seio dos adeptos a expressão “seres humanos presos ao raciocínio”, em substituição à expressão “ seres humanos espiritualmente indolentes”, e é repetida também à exaustão pelos mesmos, como se a simples utilização de tais expressões magicamente conferisse, àqueles que as utilizam, a qualidade de “despertos”! E não de outra maneira se comportam.  Curioso é que esta expressão foi baseada na (pseudo) ciência do autor Oskar Bernhart. Trata-se, no entanto, de um novo ramo da ciência: a ciência baseada na fé cega, uma vez que a única premissa a validar tal hipótese é a suposta “natureza divina” do autor, coisa mais que suficiente para os adeptos, é claro.)
  • Assim, as mais “grandiosas” e “profundas” descrições que nos são apresentadas sobre as razões do existir acabam sendo reduzidas, em sua essência, a nada; são cascas sem conteúdo, pois a “resposta final (a única autêntica), não pode ser oferecida ao intelecto humano, uma vez que ela sequer existe. Pois se Deus desde sempre existiu, então simplesmente não há um motivo; nenhuma explicação que possa ser “racionalmente” oferecida para justificar o existir Dele e, assim, também, de tudo o mais que Dele derive. Ao menos, não à mente humana.
  • No entanto, existimos! Por isso é dito que a experiência espiritual; a “vivência de Deus”, é uma experiência transcendental. Transcendental à mente humana. A “Revelação” de Deus, portanto, não se dirige, em nenhum nível, ao cérebro; ao intelecto. Este não é um caminho; sequer uma ponte. Por isso a “Revelação” tampouco pode ser algo associado a palavras ou a explicações. A “Palavra Sagrada” é, assim, uma armadilha dirigida a desavisados e crédulos. Pretensas explicações sobre Deus ou sobre o Universo e sua estrutura não nos aproximarão nem sequer um único milímetro de Deus. Como poderiam? Quem aceita tais “explicações” se rende à mais baixa forma de misticismo e exploração.
  • A experiência espiritual em nada se relaciona com descrições ou com a forma externa dos acontecimentos cósmicos. Formas, como fenômenos exteriores que são, jamais poderão nos aproximar da essência do existir. A realidade da consciência se encontra alem do domínio das formas e de suas correspondentes descrições. Estas são migalhas que, em múltiplas sutilezas, formam rastros que nos conduzem a falsos caminhos.
  • A atividade mental é claro, jamais poderá se contentar com esta realidade, pois ela exige respostas. E aqueles que limitam a experiência espiritual à mente se renderão àqueles que oferecerem tais “respostas” com alguma aparência de consistência. E ficarão aprisionados a tais “esclarecimentos”, uma vez que a mente teme, e busca proteção diante do Incognoscível. Pensamentos (palavras, imagens ou explicações) sempre serão, no que diz respeito à Verdade, como flores de plástico. Não há neles qualquer fragrância ou vida, assim como os verdadeiramente sábios o descrevem. Eles são instrumentos do tempo e, como tais, jamais poderão se aproximar da eternidade do Ser.
  • A “Verdade”, por isso, transcende quaisquer motivos ou explicações. Por isso é dito que sua experiência se encontra além da mente. Não há acesso à experiência da Verdade através dela. Pois a mente é um instrumento da dualidade e do tempo, sendo incapaz de se aproximar daquilo que é Uno e Atemporal, constituindo ela mesma para tal fim, por isso, uma barreira.
  • Mas como formar seguidores, adoradores ou organizações com tão pouco? Por isso, ao longo do tempo, milhares foram aqueles que “humildemente” se atreveram a nos apresentar a “verdade”…
  • Quem se satisfaz e se regozija com “respostas” em sua busca espiritual restringe esta mesma busca ao âmbito da mente, a qual é de todo impotente diante daquilo que é atemporal, pois a mente só pode existir e funcionar dentro do tempo, não podendo se satisfazer senão diante de conceitos temporais de passado e futuro; antes e depois. E quem alimenta a mente com “explicações” (as quais farão uso, necessariamente, de conceitos temporais) apenas a reforça. Jamais a transcenderá.
  • Tal autor também aí fez uso massivo e violento da ambigüidade, ocidentalizando e assim distorcendo conceitos há milênios consolidados na tradição espiritual do oriente. Ao fazer uso de expressões como “seres humanos de raciocínio”, ou “presos ao raciocínio”, adaptando-as às suas necessidades, limitou as perspectivas de tais desvendamentos ao domínio da própria mente que afirmava “combater”.    Por isso em outro lugar escrevi:   Não são só as mentiras, portanto, que podem desvirtuar nossos caminhos terrenos. Estas podem até ser chamadas “inofensivas”, uma vez que são facilmente identificáveis por qualquer espírito minimamente alerta… Partes da Verdade, entretanto, se mal utilizadas, transmitirão credibilidade e veracidade a quaisquer contextualizações, e causarão danos muito mais profundos, dificilmente perceptíveis, constituindo esta a derradeira arma na luta que sempre foi travada contra o crescimento livre e autêntico do ser humano nesta terra.
  • E quem age desta forma não pode ser qualificado senão como o mais sórdido dos inimigos da Verdade.
  • O universo jamais poderá ser “explicado”, ou sequer “descrito”, pois a percepção de sua realidade atemporal se encontra além de quaisquer “explicações” ou “imagens” oferecidas. O que é uma imagem afinal?
  • “Descrições” e “esclarecimentos” são oportunos e convincentes apenas ao intelecto. Através deles, entretanto, não se experimentará qualquer transcendência. A realidade última do universo, creio, poderá até ser vivenciada, mas jamais descrita em termos apropriados. Aqueles que acreditam terem se “iluminado”, afirmam categoricamente tal possibilidade, mas esta experiência em nada se relaciona à crença em quaisquer doutrinas específicas ou descrições “esclarecedoras”.
  • Porém nós, seres com tendência natural ao fanatismo, acreditamos que podemos adquirir a condição de “despertos” através de consagrações místicas, (“selamentos” ou outras consagrações ao ego) ou por meio de descrições e reflexões tidas como lúcidas e coerentes. Mas a coerência de tais explicações atém-se apenas a sua superfície, não se sustentando diante de mais profundas e proibidas ponderações…
  • Também devemos nos lembrar que um Deus personificado, ou “restrito” a uma “esfera divina” (por maior que ela seja) pairando no vazio infinito, é um Deus limitado e, em última análise, insignificante. Um virtual viajante do infinito adjacente teria dificuldade em acreditar na grandiosidade ou até mesmo na existência de Deus, uma vez que seria tarefa impossível encontrá-lo! Seria como procurar um único e insignificante grão de areia em meio a um oceano sem fim… Como vemos, “ajudar” os seres humanos a imaginar o “atemporal”, é realmente uma tarefa de grande valia… Se tempo e espaço não podem ser dissociados, uma vez que correspondem a um único fenômeno, então um Deus atemporal tampouco pode ser concebido “espacialmente”, sendo por isso toda e qualquer idéia que se faça Dele, de antemão, falsa. De nada servem tais “esclarecimentos” ou “imagens” à experiência espiritual. Os que falam de Deus são apenas palradores. Novamente, em tais aspectos, o autor faz uso da falácia e da falsidade, uma vez que afirma com ares soberanos que os seres humanos terão de se contentar para todo o sempre simplesmente com o fato de que “Deus é”, apenas para se sentir a vontade para seguir com seus “esclarecimentos” sobre o “criador” e seus mistérios…
  • Oskar Ernst Bernhardt aborda o mal do misticismo, definindo-o basicamente com uma crença independente de explicações adicionais que lhe atribuam “coerência” e “validade”, mas esta é basicamente uma distorção proposital de um conceito, pois qualquer afirmação de Verdade baseada em uma suposta “Revelação de Deus”, seja ela acompanhada ou não de explicações “lúcidas” justificadoras, tem de ser taxativamente declarada mística. Neste sentido, a crença em nada se diferencia da assim chamada “convicção”, expressão comumente utilizada pelo autor para caracterizar a “qualidade intrínseca” de suas revelações
  • O fanatismo é o traço comum a todos os adeptos fervorosos das milhares de “crenças” espalhadas pelo mundo. Ele não é a exceção, mas a regra. E fanáticos, todos eles, possuem integral convicção em suas “verdades”. Um autêntico “crente” nada mais é do que um convicto em sua “verdade”. E, de fato, tais pessoas aumentam o nível de sua intransigência e fervor na exata proporção em que se sentem ameaçados em suas “certezas”. Tomam como “testes de fé” os questionamentos às suas “convicções” e assim se fecham a quaisquer reflexões e considerações verdadeiramente individuais e autônomas. Não podem ser de fato autênticos e individuais, pois sua autonomia lhes foi drenada até a última gota pelas inúmeras ameaças à integridade espiritual dos adeptos, coisas que sempre encontramos embutidas nas inúmeras “revelações de Deus”, seja de forma velada, seja de forma explicita (o que é bem mais comum). Ameaças (profecias ou advertências bondosas, como comumente são chamadas), independente de suas “justificativas” são e sempre serão tolhimentos arbitrários e violentos ao livre arbítrio.
  • A verdadeira convicção é algo que nasce de uma experiência pessoal e imediata de uma determinada realidade. A assim chamada “convicção” nas forças elementares da natureza como entidades antropomórficas (a crenças nos “deuses” e entes da natureza), por exemplo, sempre permanecerá crença, não obstante as inúmeras “explicações” e “conexões” oferecidas para “justificar” e “validar” suas “existências”.  Sem uma vivência pessoal e direta, nenhuma “convicção” poderá ser real. Sem ela, o ser humano estará apenas enganando a si mesmo, rendendo-se por comodidade a uma crença mística, disfarçada em um auto-proclamado “conhecimento real”.
  • Neste aspecto, novamente, a abordagem milenar oriental a respeito da vivência pessoal da Verdade Transcendente, experiência esta conhecida como “iluminação”, parece ser o único caminho válido, pois trata a Verdade como uma experiência pessoal e direta, e não como um conhecimento adquirido de terceiros. A condição “espiritualmente desperta”, assim, em nada se identificaria com um “conhecimento recebido” a respeito do Universo, mas com a condição “iluminada”, com a assim chamada “auto-realização”.
  • Os que a alcançaram, entretanto, afirmam que a auto-realização  nada tem a ver com “conquistas” ou mesmo com a satisfação de tudo aquilo que idealizamos como metas e desejos para nossas vidas… Pois a condição “auto-realizada”, como a própria palavra já indica, não pode e não depende de nada que seja externo a nós mesmos. Um ser humano “realizado” torna-se assim um “Buddha”; um ser humano sem desejos, pois desejos só podem se manifestar e existir como expressões de uma insatisfação interna. Um ser humano “iluminado” torna-se auto-realizado; pleno em si mesmo. Por isso, nele, naturalmente, não há desejos. Não é necessário para isso um esforço ou uma técnica de renúncia. A ausência de desejos não seria, portanto, uma meta a ser objetivada, mas uma condição natural do ser iluminado. Trata-se de um “salto quântico” de percepção e consciência, que tais sábios afirmam não poder descrever, uma vez que palavras não são suficientes para tanto. Um caminho que passa obrigatoriamente pela renúncia do “eu” e pela destruição total do “ego”; da “persona” que criamos para nós mesmos e que tanto prezamos, e que jamais poderá ser integrado a sistemas religiosos que fazem uso de “consagrações” e demais adulações mal disfarçadas ao ego.
  • O quão infinitamente distante tal condição “desperta” se encontra de uma pseudo-iluminação adquirida de terceiros, qualquer um que ainda seja apenas um pouco honesto consigo mesmo o reconhecerá. Reveladora é portanto a definição feita por Oskar Bernhardt de “espírito” como “vontade”, afirmando que o espírito jamais poderá deixar de desejar algo…
  • Não há, portanto, nem nunca haverá um “códice” da Verdade, uma vez que a experimentação Dela implica em uma total imediatidade, imediatidade esta que dissolve toda dualidade e impede, com isto, qualquer intermediação.  Os verdadeiros mestres da humanidade podem apenas nos apontar e sugerir o caminho em direção à experiência pessoal da Verdade Transcendente, mas jamais se arvorariam a descrevê-la, uma vez que, tendo vivenciado a iluminação em si mesmos, sabem que tal coisa seria impossível.
  • Assim, não há maior expressão de hipocrisia que a declaração seguinte: “Só pode progredir espiritualmente quem se movimenta por si. O tolo, que se serve das formas já prontas das concepções alheias, como meio de auxílio,segue seu caminho como que amparado em muletas,enquanto seus próprios membros sadios permanecem inativos.”(Oskar Bernhardt)
  • Mas como não se tornar um tolo ao aceitar uma verdade de segunda mão?  Como uma “verdade” oferecida por uma terceira pessoa deixará de ser uma “forma já pronta das concepções alheias”? Contam seus próprios leitores com a condição auto declarada de “Filho do Homem” do autor que tanto idolatram, a fim de voluntariamente se alienarem de tais monstruosas contradições? Tais frases de efeito, dotadas de razoabilidade indestrutível, são utilizadas de maneira sórdida, apenas para angariar adeptos a uma crença mística que, em seus fundamentos, as contradizem em sua totalidade.
  • Muitos, pressentido tais intrínsecas contradições, repetem mecanicamente a advertência quanto à necessidade do “aprofundamento na Mensagem”, crendo ser esta a forma de “vivificar” a “palavra”, deixando assim atrás de si a de outra forma inevitável condição de tolo … Significativo, entretanto, é a absoluta ausência de originalidade nos discursos dos adeptos, os quais,  mesmo após várias décadas, não foram capazes de oferecer verdadeiramente à humanidade nenhum novo e abrangente aprofundamento dos “desvendamentos” contidos no livro que repetem à exaustão a leitura, senão reproduzir à fogo,  e literalmente, aquilo que todos já estão mesmo cansados de saber… Acaso crêem que os romances místicos sobre as “eras passadas” representam algo de novo a respeito do saber sobre o Universo? Por que afinal as “chaves do saber” não abrem a nenhum dos adeptos as portas do Saber ilimitado?  Nisso, entretanto, há um pacto de silêncio entre os adeptos,  a fim de que não revelem uns aos outros que, em verdade, não ocorrera até então qualquer progresso verdadeiro no “aprofundamento na Palavra”… Ainda assim, para isso também um  remendo  foi engendrado, pois foi-lhes “esclarecido” que “muito só se tornará compreensível ao espírito humano” após o seu desenlace terreno….   Assim,  também são mesmo oportunas aí as diversas “graduações” espirituais dos adeptos, “sugerindo” elas um suposto conhecimento hermético reservado àqueles poucos a ele aptos…
  • Mas justamente aí não deveria existir motivo para qualquer timidez, ao menos não entre os próprios adeptos, uma vez lhes foi oferecida uma clara determinação por Oskar Bernhardt:  “…sede prestimosos com o vosso saber… Dai-lhes o reconhecimento obtido, não enterreis a dádiva, pois com o dar torna-se, reciprocamente, mais rico e forte o vosso saber. No Universo age uma lei eterna: Somente dando pode-se receber, quando se trata de valores permanentes…”  Fica claro assim que um “enriquecimento”  de “saber” jamais poderia ser retido por seu possuidor, uma vez que isso impediria de todo a contínua progressão no caminho do “aprofundamento  do saber”.  Portanto o silêncio, justamente nisso, exprime coisa bem diversa do que a tão desejada pretensão de saber que os adeptos queiram deixar transparecer de sua “silenciosa altivez” …
  • Tão explorado foi o sentimento de culpa dos pobres adeptos, entretanto,  que, é claro, também aí um pesado fardo lhes restou… Sentem-se eles culpados por sua “negligência”… Pois, afinal, se nada de novo lhes foi revelado, certamente então é porque não fizeram o esforço e não estiveram à altura de suas obrigações espirituais… Parte do silêncio tem aí também a sua origem… A culpa é sempre um bom instrumento para forjar a sujeição alheia, criando fiéis  e submissos seguidores…
  • Se nos aprofundarmos no conceito da “imparcialidade”, inevitavelmente concluiríamos (é claro, se formos integralmente honestos conosco, algo de antemão difícil e improvável a um crente): A imparcialidade na reflexão exige distanciamento! Porem, o distanciamento é algo absolutamente impossível a um “convicto” (crente), uma vez que ele automaticamente desfaz o alinhamento fanático. Por isso o crente não se distingue de sua crença! Ele e sua crença são uma só coisa.
  • Sem distanciamento, não pode haver verdadeira clareza. Por isso muitas vezes se sugere aos adeptos a leitura reiterada, ou o “estudo” e “aprofundamento” nas “revelações”, uma vez que assim a ausência do distanciamento fica assegurada, mantendo os adeptos na condição de fiéis seguidores. Um processo de insinuação perigoso e de base verdadeiramente hipnótica. A sujeição é o resultado inevitável neste jogo de vaidades, medo e poder. Adeptos de “verdades” religiosas, portanto, jamais deveriam fazer uso desta palavra em suas elucubrações, pois da imparcialidade são os autênticos inimigos. Ao fazerem uso dela se tornam os mais perigosos dos hipócritas, aliciadores de incautos.
  • O ser humano que se propuser a trilhar o caminho proposto por Oskar Ernst Bernhardt acabará por fim acorrentado dentro de si mesmo, mas não será mais capaz de se perceber tolhido e oprimido. Porém, não será capaz de evitar: aguardará, de tempos em tempos de forma fanática e ansiosa, o cumprimento das miríades de profecias terríveis e ameaçadoras feitas para legitimar as “verdades” por ele apresentadas. Continuarão esperando, como tantos, por milênios, sem jamais se darem por vencidos… Jamais transcenderão suas mentes, apesar de já se acreditarem “despertos”, pois Oskar Ernst Bernhardt corrompeu com suas palavras o caminho para tanto, apresentando um conceito distorcido, mental e ocidentalizado sobre a natureza e o poder do Silêncio, maculando assim o instrumento mais poderoso e talvez o único caminho legítimo para a experiência espiritual pessoal ininfluenciada.
  • Líderes religiosos sempre se apresentam, não poderia ser de outra maneira, como reformadores, questionando conceitos contraditórios e combatendo-os ferozmente, com o que logo se colocam em evidência. Mas a maioria esmagadora deles é hipócrita uma vez que, sutilmente, vão substituindo os dogmas que combatem por novos! Novos, é claro, apenas em sua aparência. Sem que o percebam, os adeptos vão sendo convencidos da “razoabilidade” do “novo” que assimilam, justamente por conta dos ataques às idéias que intuitivamente também rejeitam. Inadvertidamente, porém, acabam por abdicar de toda a naturalidade em seu viver, tudo em prol de sua “salvação”. Não propriamente pela salvação em si, mas sim, por temerem por sua “condenação”. E, neste aspecto, nesta barganha desavergonhada e verdadeiramente indecente, não há nada de novo, nem tampouco de libertador. O sentimento de urgência que a brevidade da experiência terrena oferece aos nossos sentidos é assim explorado da forma mais vil por tais lideres religiosos. Desta maneira, inevitavelmente, fazem eles uso de cenários apocalípticos, minando qualquer resistência final que os adeptos ainda manifestem ao abdicarem de sua autêntica individualidade.
  • Os adeptos do “Filho do Homem” evitam se mostrar como de fato o são, pois preferem se apresentar à sociedade como se imaginam e como gostariam de ser vistos por ela: como seres humanos “razoáveis” e “sensatos”; pessoas “científicas” e, portanto, “conectadas” ao mundo em que vivem. Pois temem serem identificados como seguidores de crenças medievais… Por isso reservam muitos de seus textos mais fanaticamente comprometedores ao seu círculo mais chegado, não deixando claro ao público externo nem mesmo as distinções hierárquicas que os identificam entre si, coisas que só são apresentadas aos seguidores mais “comprometidos com a causa”. Até este ponto, nada o interessado ouvirá a respeito de “cavaleiros”, “apóstolos”, “convocados” e demais peculiaridades… Também por isso seus símbolos e insígnias são utilizados de forma velada, deixando-as à vista apenas entre si e nas dependências de seus cultos. Sugeriria que de fato se expusessem como são, em sua totalidade, e que apresentassem seu símbolo de conexão com “seu Senhor” de forma aberta e clara, evitando desculpas de violência e furto (e suas supostas conseqüências espirituais). Se tem convicção no que de fato acreditam, então não deveriam evitar respostas diretas e claras aos olhares inquiridores que de todos os lados inevitavelmente surgiriam, seja no trabalho, seja na família. Como, alias, é explicitamente determinado na própria literatura que lhes é “sagrada”. Deveriam simplesmente dizer que acreditam que Abdruschin é o Filho do Homem predito por Jesus Cristo, e que aguardam para breve o Juízo Final, informando aí o destino dos infelizes que nele e em suas revelações não acreditarem, ao invés de seguirem pela linha um tanto hipócrita que silencia nos aspectos fundamentais, dizendo apenas que “maiores esclarecimentos o leitor adquire no “aprofundamento” da Mensagem do Graal”. É claro que uma atitude hipócrita é também extremamente conveniente, pois evita uma série quase interminável de desgastes emocionais, sejam eles familiares, sociais e, é claro, profissionais. Diante de todos os percalços que enfrentariam, independente da fraude em que acreditam, seriam verdadeiramente corajosos e dignos de admiração.
  • Tais adeptos foram mesmo desarmados e expostos por seu próprio sistema de crença, uma vez que não dispõe de liberdade plena em suas reflexões, estando limitados nelas até o ponto em que seu “messias” os autorizou. Como ele fez uso excessivo e abundante de desvendamentos parciais, tendo oportunamente deixado seus leitores apenas entrever sua “sabedoria ilimitada”, não dispõem eles agora de quaisquer argumentos a contrapor às contradições acima expostas. Têm eles que se conformar somente com sua “convicção”, atendo-se nela cega e ferrenhamente. Assim como um espírito luminoso, livre e desperto o faria, é claro.
  • Sentem-se na verdade, por isso, confortáveis e extremamente aliviados ao se valerem da premissa de “não jogarem perolas aos porcos”, uma vez que assim os pormenores e as peculiaridades de suas crenças só se tornam efetivamente conhecidas dos adeptos, pois seres humanos intelectualmente capazes e livres jamais se debruçariam tão fundo nos ditames da crença cega a ponto de tomarem conhecimento de tais contradições grosseiras. Desta forma – covarde se protegem de quaisquer contestações efetivamente substanciais, as quais os exporiam a situações extremamente desconfortáveis, uma vez que então se veriam diante de uma grande “saia justa”, ao se perceberem desprovidos de argumentos a contrapor às contradições em face das quais os adeptos se tornaram cegos. É desta forma, na prática, que “defendem” suas “convicções incontestes”! Defendem, assim, não a sua “verdade”, mas a si mesmos, uma vez que não desejam mesmo serem incomodados no papel de “sábios” e “despertos”, condições que muito prezam identificar em si mesmos.

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